1.8.09

Cravo e Garoa

As ruas de São Paulo têm cheiro de Gudan. Por aqui, se anda em linha reta, com o vento frio cortando o corpo quente, cruzando o passo com pessoas que só se olham pra pedir fogo, pedir fumo. A cidade toda parece fumar, e os prédios são cinzas de todos os tons, todas as variações de frio. São Paulo é úmida, as paredes e janelas parecem chorar pela falta de cor, pelo sufoco desesperado dessas pessoas presas dentro de si, fascinantes desconhecidos que me fazem temer perguntar as horas.

A cidade não é minha, mas eu não me sinto intrusa ou turista. As ruas parecem aceitar que eu seja de fora, porque aqui em São Paulo todo mundo é de fora. É de fora do outro, é de fora de qualquer tipo de padrão que possa existir. As pessoas só são. São nada. E eu continuo pegando meu metrô, calada, quase cinza, encapotada, quente e fria, cansada, vazia e realizada.

O vento quente de São Paulo é o do corredor do metrô. Quando o trem passa e move a massa de ar que levantava minhas saias em 2004 e bagunça meus cabelos até hoje. Um caso de 5 anos, uma história mal resolvida, e falta lugar porque lugar me sobra.

E eu, camuflada de paulistana, calada, quase cinza, vivendo meus caminhos. Não se olha pro lado, não se fecham os olhos. O cheiro forte invade qualquer pensamento sobre a desproporção dos prédios e das faixas da avenida, os carros são formiga e nós não somos nada. As pessoas são nada às seis da tarde. São volume, são barulhos, são movimento e só. Mais pessoas que cheiram a cravo e emanam algum calor e fumaça no meio do gelo e do silêncio que haveria se elas não houvesse. Mas há.

As ruas de São Paulo têm cheiro de Gudan.

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