12.7.09

Quer dizer,

Mas é claro, tão logo o pretérito perfeito entra em cena, lá me vem o pretérito do subjuntivo fazendo barulho e me lembrando de que é bem no suspiro do "e se" que eu vejo que não há o que suspirar, quer dizer, não em primeira pessoa. E é lá verdade que ando monótona e amarga, mas quem poderia me culpar por reivindicar meu luto? Ainda mais quando a morte é desfecho de doença terminal, ou até mais que isso, e eu até diria eutanásia, porque não sou só eu que vejo a incoerência dos pró-vida desejando que os pró-morte morram, quer dizer, não pró-morte, que ninguém é, mas os realistas ou pé no chão ou apenas os pessismistas e que diriam "Eu já sabia, Galvão", e é claro que alguém sempre sabe, a não ser que a morte seja causa de uma doença misteriosa ou que se considere o doente uma espécie de corpo fechado ou pessoa que tudo aguente.

Mas nem existe gente assim, quer dizer, todo mundo morre um dia, toda doença pode afetar todo mundo e os pró-vida vão perder a luta no final, ainda que tudo isso seja uma metáfora para pessoas que se enganam o tempo todo e não acreditam que seriam capazes de fazer isso ou aquilo, e nós, realistas, pessimistas e afins sabemos que não é lá muito verdade, e que não importa a intenção ou o esforço se no final você, bem, morre. Ou faz uma merda muito grande, quer dizer, mata. Kant estava errado, não tem essa de moralidade na intenção, mas ele tava certo lá nos meios dos imperativos categóricos, quer dizer, queria eu ver se alguém fosse assim, ligar os aparelhos, pagar o tratamento médico pra depois sufocar no travesseiro. Não sei porque sufocar no travesseiro me parece uma morte tão trágica, quer dizer, toda morte é trágica em sua medida de tragicidade, já que criança morrendo é bem pior do que qualquer outra coisa, mas o que eu dizia era que sufocar só não deve ser pior do que afogar.

E a gente sufoca em palavra e afoga em mentiras o tempo todo e as pessoas acham que pelo menos não levaram tiros, quer dizer, alguma coisa tá errada, e nós, pessimistas, realistas e afins sabemos que É CLARO que alguma coisa está errada, muita coisa está errada, mas é como se a vida fosse um grande hospital tipo em Grey's Anatomy e no último episódio da 5ª temporada as pessoas insistissem em assinar grandes documentos de não-ressucitar (NRs) e se metessem com doenças irreversíveis e quadros clínicos tão absurdos que nem o mais bem-intencionado dos pró-vidas poderia desejar que a gente consertasse.

E eu nem sou médica, meu deus.

2 comentários:

  1. calma, respira... uma hora passa. acho.

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  2. Promises, promises...
    There to be broken
    As truth is forgotten
    Honestly,

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